No primeiro episódio de 2022, falamos sobre as políticas afirmativas para a promoção do acesso dos quilombolas às universidades.
A Rádio da Pró-Índio está de volta! No primeiro episódio de nosso podcast em 2022, falamos sobre o acesso de quilombolas às universidades do Pará e a importância das políticas afirmativas, uma luta antiga do movimento negro.
Para entender melhor o assunto, conversamos com Zélia Amador, uma das fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA) e professora emérita da UFPA, e os estudantes quilombolas de Oriximiná, Carlene Printes e André dos Santos Rocha.
Uma luta antiga
A garantia de vagas para negras e negros nas universidades públicas é uma luta antiga do Movimento Negro desde a década de 1940. Mas foi só em 2013 que a Universidade Federal do Pará (UFPA) criou o Processo Seletivo Especial, que reserva duas vagas para quilombolas e duas para indígenas em todos os cursos da instituição.
“Essas políticas são importantes, não [só] para os estudantes quilombolas e indígenas. Elas são importantes para a sociedade, são importantes para o conhecimento”, diz Zélia Amador, que participou da criação do Processo Seletivo Especial.
Professora Zélia explica que este processo funciona de forma diferente do sistema de cotas. O processo seletivo é composto de uma redação simples e uma entrevista para avaliar o pertencimento daquela pessoa às comunidades quilombolas.
Desafios da permanência
Uma vez com o acesso às universidades, os quilombolas passam a ter o desafio da permanência nas instituições. Muitos deles têm que estudar e morar em locais distantes de seus territórios, e precisam de recursos financeiros extras para se manter. As Bolsas Permanência concedidas pelo Ministério da Educação são um instrumento importante nesse sentido.
“Essa bolsa é a principal fonte de renda dos estudantes. Na maioria das vezes a gente vem de territórios de famílias que têm três ou mais filhos, e os pais não têm a mínima condição de mantê-los fora de seu território”, diz Carlene Printes, do quilombo Boa Vista, em Oriximiná, estudante da UFPA.
No entanto, Carlene e Zélia alertam para a baixa quantidade de bolsas disponibilizadas pelo Ministério da Educação atualmente. “Imagina que temos aqui na UFPA, nesse ano, uma necessidade de quase 1.000 bolsas para indígenas e quilombolas. E só recebemos do MEC 120”, aponta a professora.
Para lidar com as dificuldades de morar e estudar fora de seus territórios, também é importante para os quilombolas ter uma rede de apoio a quem possam recorrer. Sabendo disso, os estudantes se organizam dentro das faculdades para ter essa estrutura disponível para quem precisa. A Associação dos Discentes da UFPA é um resultado desse esforço, e ajuda os quilombolas que chegam às universidades a se ambientarem ao local e encontrarem moradia, por exemplo, como relata Carlene Printes.
Quilombolas nas universidades: bom para todos
As dificuldades ainda existem. Mas as políticas de acesso e permanência para quilombolas nas universidades mostram que ter mais estudantes com essa origem nas instituições enriquece não somente elas, mas a sociedade como um todo.
“Quanto mais alunos, mais quilombolas formados, é melhor para a luta, melhor para o quilombo, melhor para a sociedade de uma forma geral. Para o nosso entendimento como seres humanos, mesmo”, diz André dos Santos Rocha, quilombola da Comunidade Boa Vista que cursa a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em Santarém.