CASTANHA DO QUILOMBO

© Carlos Penteado

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A coleta da castanha-do-pará (Bertholletia excelsa) faz parte da tradição dos quilombolas de Oriximiná e constitui um elemento importante de sua identidade étnica. A lida com a castanha teve início quando os escravos fugitivos constituíram seus quilombos nas matas do Rio Trombetas e seus afluentes. Ao fugir, os negros tiveram que aprender a extrair da floresta sua sobrevivência. Passaram a caçar, pescar e coletar produtos vegetais na mata. Além da castanha, os quilombolas extraíam a salsaparrilha, o cumaru, o óleo de copaíba, andiroba e pequiá.

Desde o século 19, a castanha representa uma importante fonte de renda para os quilombos desta região, pois, mesmo no período da clandestinidade, sua coleta visava não apenas ao consumo, mas também à comercialização no mercado regional. Até hoje, a coleta e comercialização das amêndoas de castanha-do-pará, produto abundante nas matas de seus territórios, constitui uma das principais fontes de renda dos quilombolas, especialmente das comunidades do Alto Trombetas.

Desigualdade marca a cadeia da castanha

Uma forte desigualdade tradicionalmente caracteriza a cadeia produtiva da castanha-do-pará. Os coletores sempre estiveram sujeitos a uma relação de alta exploração quer pelos “patrões” – que se diziam donos dos castanhais – quanto pelos intermediários (conhecidos como regatões) que compravam a castanha e vendiam mercadorias. O acesso aos castanhais era controlado pelos “patrões” e os quilombolas recebiam mercadorias (com valores majorados) como pagamento da castanha (sempre avaliada a preços abaixo do mercado) estabelecendo relações de endividamento e sujeição. Muitas vezes, as dívidas assumidas pelos quilombolas na compra das mercadorias dos patrões eram tão altas que não recebiam nenhum pagamento pela castanha coletada.

Mesmo nos castanhais “livres”, os coletores estavam sujeitos a uma relação de alta exploração nesse caso pelos regatões que compravam a castanha a preços pré-fixados abaixo do seu valor de mercado em troca de mercadorias com valores muito altos.

Augusto Figueiredo, da comunidade Pancada, lembra do tempo em que era necessário pedir autorização para entrar no castanhal: “antes era dominado pelo patrão, a castanha que a gente colhia tinha que vender para eles, no preço que eles queriam. Se alguém vendesse para outra pessoa, eles mandavam prender, ou quando pegava para se alimentar. O trabalho pesado ficava todo com a gente, que transportava nas costas para colocar na canoa”.

Titulação dos territórios garante o livre acesso aos castanhais

As sucessivas titulações das terras quilombolas da região, a partir dos anos 1990, garantiram o livre acesso aos castanhais de seus territórios tradicionais, antes dominados pelos chamados “patrões”. A libertação dos castanhais possibilitou aos quilombolas planejar alternativas para tornar o negócio da castanha mais rentável para as comunidades.