Fonte: CTI

Desde que a pandemia chegou ao Jaraguá, no fim de abril, foram realizados 353 testes, dos quais 77 foram positivos, 170 negativos e 121 estão pendentes. Por enquanto, somente um entre os quase 600 habitantes do território precisou de internação hospitalar. Ninguém faleceu.

“Estamos cientes de que em algum momento todos podem pegar, mas se for dessa forma que vem acontecendo aqui, um pouquinho por vez, a gente consegue cuidar, dar mais atenção e então recuperar esses casos. Estamos seguindo as medidas. A questão das máscaras é difícil…  Somos livres em nossa cultura e isso nos faz sentir um pouco sufocados… Mas vamos tentando, seguindo as orientações, sem apavorar as pessoas, tendo diálogo”, diz Thiago Henrique Karai Djekupe, ativista guarani e apoiador de saúde nas comunidades do Jaraguá.

Na outra terra indígena do povo Guarani Mbya em São Paulo, o coronavírus já provocou óbitos. A Tenondé Porã, no extremo sul da cidade, perdeu três de seus 1200 habitantes pela doença – uma criança de um ano no fim de março e dois idosos, na última quarta (3) e nesta segunda (8). Desde primeiro de maio, os dois CECIs do território também se tornaram centros de isolamento operando em sinergia com a UBS Vera Poty.

Um grupo de auxiliares de enfermagem, uma enfermeira, um assistente social e outro administrativo, além de agentes de saúde guarani responsáveis por mobilizar as comunidades, tem atuado na coleta de 912 testes efetuados até o momento. Destes, 239 foram positivos, 526 negativos, 142 inconclusivos, três foram cancelados e outros dois estão em análise.

“A gente fica triste, pensando que já vem há mais de 500 anos em contato com os não indígenas, passando muitas vezes por situações de eliminação. Infelizmente em 2020 estamos passando por tudo de novo”, diz Priscila Para Poty, do grupo de lideranças da Tenondé Porã. Ela conta que sente falta dos almoços comunitários que aconteciam nas aldeias, a primeira prática cultural suspensa em função do coronavírus: “A gente vem tentando evitar ao máximo aglomerações nas comunidades, tanto que a gente parou de fazer almoço coletivo para as crianças, para os mais velhos, nossos xeramoĩ [anciãos] e xejaryi [anciãs]. Mas é um pouquinho complicado… A gente é livre. E agora não pode mais compartilhar petỹgua [cachimbo], nosso ka’a [erva-mate], que são sempre oferecidos quando você visita nossos velhinhos”.