De 19 a 21 de junho, mulheres quilombolas dos municípios paraenses de Oriximiná, Óbidos, Santarém e Monte Alegre estarão reunidas em evento promovido pela Coordenação de Mulheres da ARQMO, CEQMO e Comissão Pró-Índio de São Paulo

 

Esse será o primeiro encontro de mulheres quilombolas do Baixo Amazonas e proporcionará um espaço de troca e articulação. Na pauta: os entraves  para a titulação das terras quilombolas; os desafios para a promoção de alternativas de geração de renda e acesso aos programas Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); e avaliação das oportunidades de participação das mulheres nas organizações quilombolas no Baixo Amazonas.

 

A trajetória da ARQMO na questão de gênero
Confira o depoimento de Socorro de Oliveira Pereira, ex-coordenadora da ARQMO, sobre a trajetória dos quilombolas de Oriximiná no trabalho de fortalecimento das mulheres e discussão de igualdade de oportunidades para homens e mulheres:

No início, a questão de gênero na ARQMO só tinha no papel. A gente estava perdida neste assunto. No início, era a luta pela titulação, homens e mulheres lutando juntos sem distinção. A gente achava que a prioridade era a titulação e que o gênero era para depois. Depois da terra titulada é que começamos a nos preocupar com gênero, mesmo não sabendo o que era. Para nós gênero era farinha, arroz…

Nós deixamos a cargo da CPI-SP encontrar quem poderia nos ajudar na discussão de gênero. Depois de entendido e divulgado o que era gênero, nós escolhemos tratar do planejamento familiar e da saúde da mulher.

Depois desse assunto nós fomos tratar da relação de homens e mulheres no projeto da comercialização da castanha-do-pará. Descobrimos que a mulher é importante para o projeto.

Já a outra oficina foi para discutir a cidadania da mulher. Debatemos o papel da mulher desde a casa – como está dentro da casa- até a comunidade e a sociedade. Por que os homens não ajudavam as mulheres? Os homens achavam que não era trabalho deles.

Hoje, os homens já descobriram que eles também têm que ajudar as mulheres. Já melhorou muito. Os homens ajudam a mulher na educação do filho; compartilham a decisão de como gastar o dinheiro.

A previdência social foi uma das conquistas. A AROMO encaminha os benefícios do salário-maternidade.  Antes a gente era obrigada a colocar na carteira doméstica. Hoje, a gente pode colocar trabalhadora rural ou quilombola. Conseguimos esse avanço.

Mulheres Quilombolas e Desenvolvimento Sustentado, CPI-SP, São Paulo, 2004.