Promovida pela CPI-SP, 36ª roda virtual contou com a participação de mulheres de Oriximiná e Óbidos
Na última sexta-feira (01/03), encontro virtual promovido pela Comissão Pró-Índio de São Paulo reuniu 50 mulheres quilombolas e ribeirinhas paraenses para debater machismo e violência contra as mulheres. Esta foi a 36ª reunião entre a CPI-SP e as mulheres de Oriximiná e Óbidos.
A dinâmica da reunião consistiu numa reflexão sobre frases que costumam ser ditas para as mulheres, com o objetivo de discutir o motivo de serem consideradas machistas. Também foram compartilhados dados que quantificam o cenário da violência contra as mulheres no Brasil.
As mulheres também comentaram sobre os desafios enfrentados ao combater o machismo nas comunidades. Carlene Printes, coordenadora de Diversidade e Gênero na Malungu – Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará, e liderança na comunidade quilombola Boa Vista, em Oriximiná, comenta sobre a dificuldade de ter acesso a políticas públicas nas comunidades amazônicas, que estão localizadas em áreas remotas: “Esse tema é bem complexo para a gente que está no quilombo, que não tem políticas públicas. O que me preocupa é como conseguir dar suporte pras mulheres que estão nas comunidades sofrendo a violência. Ainda que a gente diga os meios pra denunciar, como essa mulher chega em Oriximiná para fazer essa denúncia? Se a gente denuncia, essa polícia, quem deveria combater, vai chegar na comunidade?”, conclui.
Em seus relatos, as participantes compartilharam como a violência assume diversas formas além da física e sexual, podendo ser também psicológica, patrimonial e moral. “É muito fácil falar que tem que tomar coragem, denunciar, mas não é simples assim. E a rede de apoio é muito importante, porque a mulher está muito vulnerável”, pondera Silvia Rocha, da comunidade quilombola Boa Vista, localizada no município de Oriximiná.
Desde o final de 2020, a Comissão Pró Índio de São Paulo viabiliza encontros virtuais mensais com as mulheres quilombolas e ribeirinhas de Oriximiná e de Óbidos para debater assuntos relevantes como política, racismo, machismo, luta pela terra e proteção dos territórios. É um espaço permanente para exercitar o pensamento crítico com trocas de perspectivas e estratégias comunitárias para a mudança. Nas reuniões realizadas entre fevereiro de 2023 e janeiro de 2024, 173 mulheres contribuíram com seus relatos e reflexões.
Ilustração de Mandy Barros. Retratos da Pandemia: perspectivas das mulheres quilombolas (2021)
Feminicídio
Estudo divulgado nesta quinta-feira (07/03) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que 2023 registrou o maior índice de feminicídios desde a tipificação em lei, em 2015.
O levantamento mostrou que, embora 58% das mulheres brasileiras sejam negras, “há uma prevalência de mulheres pretas e pardas entre as vítimas: 61,1% eram negras, 38,4% brancas, 0,3% amarelas e 0,3% indígenas.”.
O levantamento leva em conta apenas os casos que foram oficialmente registrados dessa forma pela polícia.
O feminicídio é todo homicídio praticado contra a mulher por razões da condição do gênero feminino e em decorrência da violência doméstica e familiar, ou por menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Neste dia 8 de março, que marca o Dia Internacional da Mulher, a CPI-SP se soma à luta das mulheres pela igualdade de gênero e contra todas as formas de violência.
Créditos
Coordenação: Lúcia M. M. de Andrade
Apoio na coordenação e edição do texto: Carolina Bellinger
Texto: Isadora Fávero
Sistematização e documentação: Julia Gibertoni Leite
Articulação logística: Juliana Donato