Fonte: Bloomberg

O novo modelo totalmente elétrico da picape mais vendida nos EUA, a Ford F-150, conta com alumínio para torná-la leve e veloz. Não emite fumaça, nem faz barulho. No entanto, seu impacto pode ser sentido na Floresta Amazônica, no Brasil. É lá que começa a problemática trajetória do alumínio da Ford F-150.

O alumínio usado para estruturar a cabine de passageiros da caminhonete pode ser rastreado desde o histórico complexo de montagem da Ford em Dearborn, no Michigan, a uma fabricante de peças na Pensilvânia, uma fundição no Canadá e, finalmente, até o Brasil. No coração da Amazônia, a bauxita cor de ferrugem é extraída de uma mina que há muito tempo enfrenta acusações de poluição e apropriação de terras.

A mina de bauxita Mineração Rio do Norte, conhecida como MRN, fica a cerca de 240 quilômetros ao norte de Fordlândia. Situada em uma floresta nacional ao longo de um afluente do Amazonas, a mina, inaugurada em 1979, fazia parte de uma tentativa do governo de desenvolver a região – um esforço que se acelerou nos últimos anos com o desmatamento desenfreado sob o ex-presidente Jair Bolsonaro.

A MRN, de propriedade de um consórcio de mineradoras, está buscando permissão para expandir sua área de atuação, já três vezes o tamanho de Manhattan, em cerca de um terço, desmatando outra Manhattan.

Em 1984, a MRN começou a despejar resíduos de mineração não tratados nas proximidades do Lago Batata, do qual os residentes locais dependem para obter água e peixes. O resíduo da bauxita é uma lama alaranjada com metais pesados, e a destruição foi tão grande que ainda hoje, mais de 30 anos após o fim do despejo, a lama tóxica do Batata fica visível na estação seca, e peixes e tartarugas ficam vermelhos.

O órgão ambiental do governo não tem recursos para fazer testes independentes de água, diz Lúcia M.M. de Andrade, coordenadora executiva da Comissão Pró-Índio, grupo sem fins lucrativos que defende os direitos das comunidades indígenas e tradicionais. “A percepção da empresa e a percepção das comunidades sobre os impactos e benefícios são muito diferentes”, diz ela.