Inventário da Língua Guarani Mbyá deverá colocá-la entre os bens imateriais reconhecidos pelo Iphan/MinC como patrimônio nacional, passando a contar com políticas de salvaguarda e promoção. Os estudos do Inventário serão apresentados, nos dias 26 e 27 de julho, em Florianópolis (SC), a lideranças Guarani, representantes de instituições e especialistas envolvidos direta ou indiretamente no trabalho. O objetivo é discutir os resultados do estudo e seus desdobramentos para a promoção da língua Guarani Mbyá.
O encontro será promovido pelo Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (Ipol), instituição responsável por executar o Inventário em 69 aldeias dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. A pesquisa teve início em 2009, com apoio do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (CFDD) da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça e apoio institucional da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Para José Carlos Levinho, diretor do Museu do Índio, órgão científico-cultural da Funai, “inventários como esse são de suma importância, pois servem de referência para as políticas públicas do setor”. Levinho ressalta que “a iniciativa deve ser estendida aos demais povos indígenas do Brasil, pois reforça a política nacional de inventário linguístico defendida pela Funai”.
Segundo a assessoria de comunicação do Ipol, o trabalho do inventário foi sistematizado em relatório detalhado que reúne informações variadas sobre a língua e seus usos sociais nas aldeias, registradas em áudio, vídeo e depoimentos. De acordo com a nota divulgada, a língua Guarani Mbyá, embora seja uma das línguas indígenas mais bem documentadas, carece de informações sobre aspectos não diagnosticados até o momento. Informações que estariam contempladas nos estudos e serão foco de debate no encontro.
Pluralidade – O Brasil convive com uma pluralidade linguística desconhecida por grande parte da população. São mais de 200 línguas faladas em todo território, das quais, 180 são indígenas, número que exclui aquelas faladas pelos índios isolados, uma vez que eles não estão em contato com a sociedade brasileira e suas línguas ainda não puderam ser estudadas e conhecidas. Estima-se que, há 511 anos, cerca de 1.300 línguas indígenas diferentes eram faladas no Brasil. Ainda hoje, muitos índios falam unicamente sua língua, desconhecendo o português, e outros tantos falam o português como segunda língua.
As línguas indígenas são agrupadas em famílias, classificadas como pertencentes aos troncos Tupi, Macro-Jê e Aruak. Há famílias, no entanto, que não foram relacionadas a nenhum destes troncos e outras que não puderam ser classificadas pelos linguistas dentro de nenhuma família, permanecendo não-classificadas ou isoladas.
Documentação – Em 2006, seminários legislativos e audiências públicas marcaram o inicio das discussões para a criação do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), instituído pelo Decreto nº 7.387, de 9 de dezembro de 2010.
Em 2009, com o objetivo de documentar as línguas nativas indígenas ainda existentes no Brasil, a Funai, por meio do Museu do Índio, criou o Projeto de Documentação de Línguas Indígenas (Prodoclin). O projeto é desenvolvido em parceria com a Fundação Banco do Brasil e Unesco, com participação de diversas instituições e pesquisadores, e conta com um Conselho Científico composto por linguistas que têm se dedicado ao estudo de línguas indígenas no Brasil.
A participação efetiva das comunidades e dos falantes, aos quais são destinados os produtos de qualquer documentação, é uma característica do projeto. Os próprios indígenas fazem o registro em áudio e vídeo para o acervo digital. O Programa de Documentação de Línguas Indígenas pode ser acessado pela internet, na página do Museu do Índio.
Fonte: Funai