Fonte: G1

Um em cada quatro indígenas testou positivo para o coronavírus no estado de São Paulo, informaram nesta terça-feira (25) o Instituto Butantan, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a secretaria especial de saúde indígena do governo federal. O SP1 teve acesso com exclusividade aos resultados dos exames, realizados no fim de julho. Os testes foram feitos em 16 terras indígenas, distribuídas em 13 cidades do estado.

Das quase 3.200 pessoas que vivem nessas aldeias, 852 testaram positivo para o vírus. Quatro delas morreram. A capital teve os piores resultados: foram mais de 750 casos e 3 mortes.

Estrutura e assistência

Na capital, os testes foram feitos em duas terras indígenas. Na Tenondé Porã, que abrange oito aldeias na zona sul da cidade, praticamente metade dos 1.000 indígenas foi infectado e três morreram; no Jaraguá, zona norte, o número também impressiona: das 571 pessoas testadas, 263 deram positivo.

O indígena guarani Antony Karai Poty ficou oito dias internado por causa da Covid-19, com febre, dor de cabeça e falta de ar. Agora, está totalmente curado. “Nós já sabíamos desde o início que essa doença chegaria às aldeias, principalmente no Jaraguá, que é a aldeia mais urbana”, disse à reportagem.

Poty ficou internado no hospital de campanha montado no Centro de Educação e Cultura Indígena da aldeia Jaraguá. O local conta com 30 leitos de enfermaria e nenhum leito de UTI. “Seria necessário um espaço dentro da aldeia para implantação de um hospital de campanha”, disse Marta Ângela Marcondes, coordenadora de saúde indígena da Frente de Apoio aos Povos Indígenas do Brasil.

Além da falta de estrutura, outra razão que explica o elevado número de indígenas infectados pelo coronavírus é a falta de segurança alimentar. Nos cinco meses de pandemia, o governo federal ofereceu apenas uma cesta básica para as famílias nas aldeias. Sem alternativa, os indígenas foram obrigados a romper o isolamento social e ir até a cidade para comprar alimentos.

“Essa população ficou totalmente à mercê da doença, pois não está bem alimentada e fica mais vulnerável ao vírus”, disse o gestor ambiental Edmilson Gonçalves. Sônia Ara Mirim, apoiadora de saúde indígena na Unidade Básica de Saúde, explicou que a pandemia também demandou mudanças específicas nos costumes da comunidade. “Fazemos tudo junto, reunidos, dividimos tudo, inclusive o cachimbo e o chimarrão. Então, quando começou a pandemia decidimos utilizar ítens individuais para evitar mais contaminação”, afirmou.

Preocupação com os pajés

A Covid-19 é uma doença que mata, principalmente, os mais velhos, e, nas tribos indígenas, eles são os pajés, que passam adiante os ensinamentos. Dessa forma, Antony Karai Poty disse ao SP1 que a pandemia trouxe uma preocupação especial com a sobrevivência da cultura indígena. “A gente não tem muitas pessoas mais velhas assim para transmitir os ensinamentos. Essas bibliotecas vivas estão partindo, e, por isso, espero que isso passe. E que o ser humano também aprenda alguma coisa com isso, né, que perceba que não aconteceu por acaso”, completou.

Em nota, a secretaria municipal de saúde disse que tem uma área exclusiva para tratamento de indígenas, e que está em contato constante com as lideranças das comunidades e que os casos mai graves são encaminhados para unidades da rede de atenção à saúde.

Em nota, a Funai disse que desde o início da pandemia encaminhou mais de 1.600 cestas básicas e 200 kg de alimentos, além de equipamentos de proteção individual (EPIs) para as aldeias que formam as terras indígenas do Jaraguá.