Fonte: Rede Brasil Atual
Eles são cerca de 325 mil brasileiros, mas são invisíveis aos olhos e às políticas públicas. De acordo com o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos mais de 800 mil indígenas no país, 38% vivem nas cidades. Além da invisibilidade, são vítimas de genocídio diante da pandemia do novo coronavírus. Os dados constam do relatório Indígenas em Contextos Urbanos no Brasil e os Impactos da Pandemia da Covid-19, apresentado com exclusividade à Rede Brasil Atual.
A pesquisa, realizada pela Articulação Nacional de Indígenas em Contextos Urbanos e Migrantes, foi proposta pelo coordenador da Rede de Investigações Sobre Indígenas Urbanos (Risiu), Jorge Horbath, pela antropóloga da Universidade de Brasília Rebecca Igreja, e pelo coordenador do projeto Indígenas na Cidade, da ONG Opção Brasil, Marcos Aguiar.
Gercídio Valeriano, pesquisador adjunto da Articulação, afirma que é difícil saber a dimensão do problema, já que se trata de uma população constantemente invisibilizada. “A subnotificação dos casos e óbitos devido ao coronavírus nas cidades coloca a vida desses indígenas em risco. Além da falta de testes, há falta de produtos de higiene, água, comida e políticas públicas que mudem a situação dessa população”, diz.
“Muitos vivem de artesanato ou em trabalhos precarizados e tiveram dificuldades em conseguir o auxílio emergencial”, conta.
Um estudo do Instituto Socioambiental (ISA), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta quais são as Terras Indígenas (TI) mais vulneráveis à covid-19 no Brasil. “Ganha destaque as TIs em territórios urbanos, como é o caso da TI Tenondé Porã e da TI Jaraguá, ambas em São Paulo, a maior cidade do país e o epicentro da pandemia”, elenca o material da Articulação.
Essas áreas vivem sob recorrentes ameaças de remoção e estão em zonas sem saneamento básico, confinadas em espaços minúsculos e sem qualquer assistência por parte do Estado, contando apenas com doações e ações de organizações indígenas e não indígenas.
“Vale ressaltar que além destas TIs, temos na Região Metropolitana outros mais de 60 povos, totalizando mais de 90 mil indígenas que não foram incluídos na pesquisa. Ainda conforme o estudo, a população indígena em zona urbana reside majoritariamente em municípios com alto risco para covid-19, totalizando 190.767 indivíduos nessa situação”, explica o relatório. Diante da constatação de que não há política pública voltada para indígenas que vivem nas cidades, essas comunidades se viram com ações pontuais para minimizar o impacto.
O relatório menciona o exemplo dos Pankararu, em São Paulo, que se mobilizaram para atender as comunidades indígenas do Real Parque e Jardim Panorama, além de outras regiões. “Nesta localidade, são mais de 177 famílias indígenas com mais de 2 mil indígenas.”