Fonte: Mongabay

A Mineração Rio do Norte (MRN), quarta maior produtora de bauxita do mundo, possui 26 barragens de rejeitos em Oriximiná. É o município com o maior número desses depósitos de resíduos de mineração no Pará.

Além da ameaça de colapso das barragens, as comunidades se veem obrigadas a viver com problemas de abastecimento: com a chegada da MRN, a água antes limpa dos canais e igarapés ganhou um tom avermelhado, provável efeito da presença de resíduos tóxicos.

A fiscalização carece de transparência. Foi o que constatou a antropóloga Lúcia Andrade, diretora da Comissão Pró-Índio de São Paulo, ONG que desenvolve pesquisas em comunidades de Oriximiná desde 1989. Ao solicitar à ANM os relatórios de vistoria das barragens da MRN, Andrade foi informada de que esses documentos estão protegidos por sigilo derivado da Lei de Propriedade Industrial, e nem mesmo os ribeirinhos têm acesso à avaliação de segurança dos tanques que estão sobre eles.

A água de canais e igarapés, antes cristalina, ganhou um tom levemente avermelhado, e vem causando alergias e distúrbios gastrointestinais nos moradores. Isso fez com que os ribeirinhos demandassem a construção de poços artesianos e a instalação de microssistemas de abastecimento de água como parte das ações mitigatórias do impacto causado pela expansão da atividade minerária para novos platôs.

Mas a água dos microssistemas também é motivo de preocupação. “Os funcionários da mineração, quando vêm aqui, trazem água mineral, não bebem a nossa água. Por que não?” questiona José Domingos Rabelo. Na casa de outro ribeirinho de Boa Nova, Domingos Gomes, até pouco tempo atrás, seria preciso coragem para ingerir a água que jorrava dos canos do microssistema. “Era uma água alaranjada, que eu tinha receio até de colocar nas plantas”, descreve. Gomes atribui a recente substituição do microssistema a uma foto divulgada pela ONG Comissão Pró-Índio: “eu acho que só foi resolvido porque eles ficaram com vergonha de aquela foto passear muito longe, e o mundo todo ver a situação de uma água daquela, que não é para beber”.

Para a antropóloga Lúcia Andrade, os relatos dos ribeirinhos sobre os problemas nos igarapés, e até mesmo nos poços artesianos construídos pela MRN, indicam que o monitoramento realizado não é suficiente para diagnosticar os impactos amplos da atividade minerária nos recursos hídricos. Andrade sugere, inclusive, que os parâmetros definidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente para analisar a água devam ser adaptados à realidade da Amazônia. “Uma coisa é considerar adequada uma água que ainda vai passar por um sistema de tratamento antes de ser ingerida. A outra é usar os mesmos critérios para uma água que vai ser usada diretamente no igarapé”, compara.