Fonte: Rede Brasil Atual

Nas áreas demarcadas, desmatamento chega a menos de 4%, mostrando que a presença humana não é necessariamente sinônimo de devastação, desde que haja uma visão de harmonia com a natureza

São Paulo – Pesquisa feita pela Comissão Pró-Índio de São Paulo indica que as áreas desmatadas em seis terras indígenas do estado equivalem a menos de 4% da dimensão total dessas áreas. Para um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, Otávio Penteado, a ideia de que a presença indígena aumenta a taxa de desmatamento é equivocada. “Há uma confusão na maneira como concebemos o nosso espaço e como eles concebem. Há uma ideia de que qualquer presença humana vai devastar a área e usar de modo predatório. É preciso viabilizar os objetivos mútuos que existem entre essas áreas indígenas e a floresta, porque eles existem”, disse Penteado.

O estudo “Terras Indígenas na Mata Atlântica: pressões e ameaças”, feito pela Comissão Pró-índio de São Paulo, analisa a situação de nove terras indígenas localizadas na região da Serra do Mar, distribuídas por uma região que abrange desde o extremo sul da região metropolitana de São Paulo até o litoral. Com uma área total de 38.572 hectares, essas terras indígenas abrigam uma população de aproximadamente 2.220 índios, segundo dados da Funai. No estado de São Paulo existem 29 terras indígenas que apresentam algum tipo de reconhecimento pelo governo.

O estudo mostra que as principais causas de destruição da Mata Atlântica são também as principais ameaças aos direitos territoriais dos indígenas. A  expansão da fronteira agropecuária, os grandes empreendimentos de infraestrutura, o crescimento das cidades e a exploração não sustentável das florestas são algumas dessas ameaças. Nos municípios litorâneos de São Paulo, muitas áreas remanescentes de Mata Atlântica se localizam em áreas onde há forte presença de empreendimentos ligados ao turismo  e ao lazer, além de atividades portuárias (sediadas nas cidades de Santos e São Sebastião) ligadas à cadeia de petróleo e gás, além dos setores de infraestrutura, como portos, estradas e ferrovias.

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente de 2011, hoje a Mata Atlântica está reduzida a 22% da sua cobertura original. Desse total, 7% estão bem conservados em fragmentos acima de 100 hectares, dentre os quais se encontram as terras indígenas. De acordo com o estudo da Comissão Pró-índio de São Paulo, a maior taxa de desmatamento encontrado em terras indígenas foi de 10,5%,  registrada nas terras indígenas Piaçaguera – área cortada pela rodovia Padre Manoel da Nóbrega e que foi alvo de exploração mineral pela empresa Vale do Ribeira Indústria e Comércio S.A.

Para Otávio Penteado, é preciso haver estudos que indiquem os impactos diretos e indiretos provocados por processos exploratórios nas áreas próximas às áreas de Mata Atlântica, as quais incluem terras indígenas: “Deve-se fazer uma real avaliação sobre os impactos nestas áreas, como isso afeta o meio ambiente e a maneira de viver dessas comunidades. As terras indígenas precisam ser pensadas nos processos de exploração e os índios devem poder escolher como vai ser a sua relação com o espaço urbano.”

De acordo com o pesquisador, o Dia Nacional da Mata Atlântica,  comemorado hoje (27), é fundamental para suscitar os debates sobre a importância deste bioma. “A questão deve ser lembrada e discutida profundamente, em diferentes formar e interligando as áreas do conhecimento”. O estudo “Terras Indígenas na Mata Atlântica: pressões e ameaças” está disponível no site da Comissão Pró-Índio.