No novo livro da Comissão Pró-Índio, mulheres quilombolas relatam como é vivenciar a pandemia e como o movimento quilombola enfrentou essa situação inédita e desafiadora.
A nova publicação é uma obra coletiva que aborda o difícil tema da pandemia da Covid-19 sob o olhar de mulheres quilombolas. O livro nasceu do desejo da Comissão Pró-Índio em conhecer como as mulheres das comunidades quilombolas nos municípios onde atuamos (Óbidos e Oriximiná, no Pará) estavam percebendo a pandemia, se existiriam demandas específicas e como poderíamos apoiá-las nessa crise sem precedentes.
Depoimentos colhidos pela jornalista Bianca Pyl, em meses de conversas virtuais entre novembro de 2020 e junho de 2021, registram como é vivenciar a pandemia em uma região onde a assistência à saúde é tão precária. “Quando chegou em Belém, Manaus e Santarém, a preocupação já foi muito maior porque a gente pensou logo na questão dos nossos hospitais. Nosso hospital não tem leito de UTI e, na época, não tinha nem respirador” Catarina Soares Franco, Quilombo Arapucu (Óbidos).
O livro apresenta as vozes de 24 mulheres quilombolas de diferentes gerações e comunidades nos dois municípios. “Eu fiquei muito agradecida de poder estar participando e colocando a minha voz. Para que todo mundo soubesse quais eram os nossos pensamentos aqui na comunidade, o que a gente sofreu, como isso impactou a gente” relata Maielza dos Santos Souza (Quilombo Pancada, Oriximiná) uma das participantes do livro.
O livro conta com ilustrações de Mandy Barros
Artigos
O livro traz também artigos de autoria de três mulheres quilombolas que nos contam como o movimento quilombola se organizou para fazer frente à pandemia. No seu artigo, Andreia Nazareno dos Santos relata as diversas iniciativas da Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). Entre elas, a proposição de ação judicial no Supremo Tribunal Federal. Foi uma decisão favorável do STF que estabeleceu que o governo federal deveria apresentar um plano de enfrentamento à Covid-19 nos quilombos, além de assegurar a prioridade de vacinação.
Já Érica Monteiro descreve como foi a atuação da Malungu- Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará, destacando que a pandemia exigiu um esforço de reinvenção do movimento para adaptar-se a uma situação inédita. Ela descreve as diversas iniciativas da Malungu como o apoio emergencial (distribuição de cestas básicas, kit de higiene e remédios) e os esforços para garantir que as vacinas chegassem até os quilombos paraenses.
O terceiro artigo é de Claudinete Cole de Souza que destaca que a principal preocupação da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO) foi garantir as condições para que os quilombolas pudessem cumprir o isolamento social.
O livro conta ainda com o artigo “A Covid-19 nos Territórios Quilombolas em Oriximiná e Óbidos”, de Bianca Pyl e Luiza Barros (Comissão Pró-Índio) que apresentam dados sobre a evolução da pandemia na região desde os primeiros casos em 2020 até novembro de 2021 quando os casos confirmados voltaram a crescer significativamente, uma situação classificada como “terceira onda” pelo Laboratório de Biologia Molecular da Universidade Federal do Oeste do Pará.
E qual a importância do livro?
“20 anos à frente, como é que a gente vai ver essa situação? Então, nós sabemos que alguém vai ter conhecimento por conta desses depoimentos. O que foi que aconteceu? O que foi a pandemia? Então, isso é muito importante”, avalia Wanderly de Aquino Andrade do quilombo Muratubinha (Óbidos).
E Maielza Santos Souza (quilombo Pancada, Oriximiná) complementa “eu acho que esse livro vai servir para a gente conseguir refletir e para a gente conseguir se fortalecer na luta”.
Faça o download aqui
Retratos da Pandemia: Perspectivas das mulheres quilombolas
Organização
Carolina Bellinger & Lúcia M. M. de Andrade
Artigos
Andreia Nazareno dos Santos
Érica Monteiro
Claudinete Cole de Souza
Bianca Pyl & Luiza Barros
Depoimentos
Auriele Viana Salgado
Ânisse Garcia dos Santos
Catarina Soares Franco
Dayana Silva
Dorlene de Oliveira Santos
Edivane Franco da Silva
Elaine Salgado
Elanize dos Santos Pinheiro
Gabriela da Silva Paiva
Glaucineide Souza Franco
Glenda Soares Franco
Joane Andrade dos Santos
Larisse Lopes Xavier
Lucicleide Lopes
Maielza dos Santos Souza
Maria Rosa Garcia
Marta Angélica Salgado
Michele Salgado Oliveira
Mira Santos de Souza
Neidiane de Sousa da Silva
Nilza Nira Melo de Souza
Rivanilde Souza Pita
Wanderly de Aquino Andrade
Ilustração
Mandy Barros
Projeto Gráfico
Irmãs de Criação
Comissão Pró-Índio de São Paulo
100 páginas | 25 x 20 cm
Português
Ed. 2021