Professoras quilombolas de Óbidos (Pará) apresentaram o resultado das pesquisas realizadas com o apoio da Comissão Pró-Índio.
Participantes no Quilombo Patauá do Umirizal
Na manhã do sábado, 18 de março de 2023, professoras participantes do programa “Ciência na Comunidade” compartilharam com as suas comunidades, Silêncio e Patauá do Umirizal, e com a equipe da Comissão Pró-Índio de São Paulo as descobertas das pesquisas que realizaram entre setembro e dezembro de 2022.
Convidadas e convidados puderam conhecer as investigações das pesquisadoras Carolina, Ivone, Andrea, Marly e Maria Lucilene que abordaram temas relevantes para a população quilombola: “História da comunidade Silêncio”; “Folia da Nossa Senhora do Rosário do Quilombo Patauá do Umirizal”; “O papel da mulher quilombola”; “As brincadeiras de antigamente” e “Saberes e Fazeres do Quilombo Silêncio”.
Carolina Caetana Dos Santos buscou resgatar a história da comunidade quilombola Silêncio, localizada na Terra Quilombola Cabeceiras, a primeira a ser titulada no Município de Óbidos. “O meu objetivo era buscar informações da comunidade através dos moradores mais antigos. No primeiro momento, foi feito o questionário da pesquisa. Com esses questionários fomos atrás, pudemos conhecer de perto a realidade dos povos que vieram para cá, povos negros que vieram em busca de liberdade”. E Carolina complementa, “precisamos contribuir com a comunidade para repassar as informações, para que essa cultura não seja esquecida ao longo do tempo”.
Já Ivone Lopes Siqueira, do Quilombo Patauá do Umirizal, explicou que sua pesquisa buscou conhecer melhor a folia da Nossa Senhora do Rosário: “a investigação iniciou levantando a história da nossa comunidade. Segundo relatos dos moradores, os primeiros habitantes do território foram Mariano e Ana Paulina que vieram da África na condição de escravos”. Ivone descreveu a origem e como se dá a festa que é comemorada de 5 a 7 de outubro, dia de Nossa Senhora do Rosário”. A pesquisa incluiu registro de fotos e vídeos: “consegui fazer resgate de fotos antigas que eram apresentadas na comunidade”. O objetivo de Ivone é levar os resultados da pesquisa para seus alunos “para que eles possam conhecer e levar conhecimentos para as futuras gerações”.
Quilombo Patauá do Umirizal (foto: Carlos Penteado)
O papel da mulher quilombola foi o tema da pesquisa de Adrea Maria Dos Santos Ribeiro “minha pesquisa demonstrou o esforço das mulheres para manter suas famílias; várias delas conseguiram manter suas famílias sozinhas, sem seus parceiros”. E concluiu “as mulheres da comunidade têm muitas histórias de luta, não dependem de homem nenhum. Estão aí, na luta de sobrevivência. Agradeço muito a Pró-Índio por essa oportunidade”.
Marly Ribeiro buscou conhecer as brincadeiras “minha pesquisa foi baseada em saber como as crianças brincavam, quais as brincadeiras que brincavam, quais recursos usavam, se brincadeiras foram passadas por pais, avós, ou se aprenderam com outras crianças”. “A pesquisa experimental teve a participação de alunos de 11 a 13 anos de idade, com seus respectivos responsáveis. Convidei uma pessoa da comunidade para apresentar brincadeiras que costumava brincar antigamente”, explica Marly. O resultado da investigação surpreendeu Marly “Eu achava que rede social estava influenciando para que brincadeiras fossem esquecidas. Mas percebi que mesmo com a tecnologia, as crianças continuam brincando. Muitas não abrem mão do convívio social com seus colegas, brincando”.
Por fim, Maria Lucilene Marques da Silva, a Lucinha, compartilhou sua apresentação. “Eu escolhi o tema da educação quilombola. É um processo amplo que se configura por meio dos saberes compartilhados na família, na escola, em outros espaços da comunidade”. Ela explica a metodologia utilizada “apresentei o projeto à comunidade Silêncio. Depois fiz levantamento bibliográfico sobre educação quilombola, além da elaboração de perguntas para as entrevistas que foram feitas com pais, moradores, professores e alunos (9º ano). Também tiveram reuniões de orientação com a equipe da CPI-SP”. Segundo Lucinha, a pesquisa evidenciou que os professores buscam trabalhar sobre a história e a cultura. “Os saberes são trabalhados, mas falta aprofundar e trabalhar de forma mais integrada”
Apresentação da Professora Maria Lucilene Marques da Silva
A sensação das participantes era de missão cumprida. “Foi um desafio, mas eu penso ‘eu vou me desafiar, eu vou fazer’. Foi um desafio pessoal e profissional, só tenho a agradecer às pessoas que contribuíram e à CPI-SP”, Lucinha. “Nós fizemos nosso trabalho, foi meio árduo, mas eu consegui. Agradeço muito a Pró-Índio por essa oportunidade”, Adrea. “Conseguimos chegar no nosso objetivo final, concluir nossa pesquisa. Graças a Deus deu tudo certo. Também estou disposta a novos desafios. E agradeço à comunidade do Patauá do Umirizal, que tornou possível o trabalho. Agradeço a todas as professoras e todas da CPI-SP, pelo trabalho desenvolvido nas comunidades”, Ivone.
O Programa “Ciência na Comunidade – Mulheres Quilombolas Pesquisadoras”, implementado entre setembro e dezembro de 2022, contou com a participação a nove professoras de escolas quilombolas de Óbidos e Oriximiná, selecionadas por meio de edital. O Programa proporcionou três meses de bolsa pesquisa, a doação de notebooks e orientação técnica para elaboração das pesquisas. As atividades foram realizadas com o apoio financeiro da Embaixada da Noruega e Christian Aid.