Fonte: Diário do Litoral

A crise financeira provocada pela pandemia da Covid-19 no País atinge também as aldeias indígenas do litoral sul. Um exemplo é a comunidade indígena Awa Porungawa Dju, localizada na Terra Indígena Piaçaguera, na divisa entre Itanhaém e Peruíbe, que passa por dificuldades nesse período.

Além de da falta de recursos, a aldeia tupi guarani também não conta com água potável e nem rede de saneamento básico. Outra preocupação é conseguir manter o controle para evitar o contato com as famílias de várias aldeias próximas.

O cacique da aldeia Arildo dos Santos, 43 anos, explica que os indígenas não vendem mais o artesanato aos turistas, pois eles não têm saído da aldeia. Segundo ele, algumas famílias receberam o auxílio emergencial, do governo federal, e ainda doações de amigos e entidades. Na aldeia também não é possível cultivar hortaliças, pois a terra não é boa para o plantio.

“Hoje não permitimos a visita de grupos de turistas como era antes, para participar dos cursos de fitoterapia, magia das plantas e ervas, além das vivências, que atraem pessoas de outras cidades”.

No mês de setembro, a aldeia espera retomar essas atividades com o curso “Sobrevivência na Mata com técnicas indígenas”, durante dois dias. O objetivo é mostrar aos turistas como o indígena vive e se alimenta na mata.

“Vamos adotar as precauções necessárias e receber até, no máximo, 12 pessoas, usando o medidor de temperatura, as máscaras e o álcool em gel”, esclarece.

CAIXAS D’ÁGUA

Uma das reivindicações da comunidade indígena é a instalação de uma caixa d´água para abastecer as famílias com água potável. “É um projeto antigo que prevê a construção de um poço artesiano com a caixa d´água e a bomba”.

Hoje, conforme o cacique, a água vem de uma outra fonte,mas é bem distante e a vazão é muito fraca. “Para fazer a ligação com a rede da Sabesp, o valor do investimento é de R$ 30 mil e não temos condições de arcar com esse custo”.

Com o projeto, a água deve sair por meio de um poço artesiano e será levada à caixa para abastecer as casas dos indígenas.O custo está estimado em R$ 2 mil.A comunidade conta com a doação de colaboradores para implantar o projeto.

A aldeia Porungawa também possui uma escola de ensino fundamental, do 1º ao 9º ano, com três professores bilíngues que falam o português e o tupi guarani, e atende 27 alunos.

“Apesar de as aulas presenciais estarem suspensas, as professoras vêm a cada 15 dias, para deixar as apostilas, já que os pais de alunos não têm acesso ao conteúdo via internet”, explica a indígena Joyce Eugênia.

Atualmente vivem na aldeia 18 famílias, sendo 22 adultos, três idosos e 20 crianças, num total de cerca de 50 pessoas. A Terra Indígena Piaçaguera possui hoje 12 aldeias indígenas.

DOAÇÕES DE ALIMENTOS

Uma ação para doar alimentos, produtos de limpeza e de higiene pessoal aconteceu na manhã de quarta-feira (26), na aldeia Porungawa. A iniciativa é resultado de uma parceria firmada entre o Rotary Club de Itanhaém Benedito Calixto e a Sociedade de Apoio à Causa Indígena (Saci).

O cacique Arildo agradeceu e destacou a importância da doação à comunidade indígena. Um grupo de jovens e mulheres tocou instrumentos e cantou canções em tupi guarani, acompanhados pelo pajé Guaíra, de 73 anos.

A presidente do Rotary Club Itanhaém Benedito Calixto, Katia Doenz, diz que foram doados 700 quilos de alimentos, além de produtos de limpeza e de higiene, arrecadados por meio de parceria com uma rede de hipermercado no município.A entidade já doou mais de dez toneladas de alimentos na pandemia às famílias de baixa renda.

“Essa vivência na aldeia é espetacular, pois os indígenas são os primeiros habitantes do País. Temos muito a aprender com eles,como o respeito à terra e ao meio ambiente”.

Foram entregues ainda dois filtros de barro à comunidade indígena para que eles possam ter água potável, doados por empresas. A campanha de arrecadação de alimentos do Rotary continua.