O jurista Dalmo Dallari é conhecido por sua trajetória em defesa dos direitos humanos e resistência democrática no período da ditadura militar. Também é reconhecido por seu compromisso com a defesa dos direitos indígenas.
Mas, para nós da Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP), a trajetória do Professor Dalmo será lembrada também por sua grande contribuição para a história de nossa organização. Tivemos o privilégio de contar com a sua participação desde nossa fundação, como ele relembrou nesse depoimento que nos deu anos atrás:
“Eu fui convidado a participar da CPI-SP por causa da atuação que eu tinha na Comissão Justiça e Paz em favor dos Direitos Humanos. Elas [Lux Vidal e Manuela Carneiro da Cunha] entenderam que esse era um assunto de Direitos Humanos e, como viram que a minha postura de advogado levava em conta os fatores humanos e sociais, acharam que eu poderia colaborar no trabalho em favor do índio.
Eu trabalhava com Direitos Humanos e era considerado subversivo, era um comunista perigoso e ninguém achava que eu realmente tivesse uma posição equilibrada. Era considerado muito exótico. Mas, por sorte, os antropólogos começaram a perceber que havia a possibilidade de um advogado encarar de maneira diferente a questão indígena. Foi aí que eu recebi o convite e depois, através da prática, através da convivência, eles perceberam que, de fato, era possível ser o advogado pró-índio.”
Dalmo Dallari no Ato contra a Falsa Emancipação dos Povos Indígenas, primeiro ato promovido pela CPI-SP, em São Paulo, em 1979. Foto: arquivo CPI-SP.
Contamos com sua colaboração em diversas publicações, como o A Questão da Terra publicado em 1981; O Índio e a Cidadania, em 1983; “Conflitos de Direitos sobre as Terras Guarani Kaiowá no Estado do Mato Grosso do Sul” em 2001; e Quilombos – A hora e a vez dos sobreviventes em 2001.
“A questão dos quilombos saiu das páginas da História do Brasil, deixou de ser apenas registro de uma enorme injustiça praticada no passado, para ser encarada como um fato da realidade brasileira do século XXI”. In Quilombos – A hora e a vez dos sobreviventes, 2001.
E pudemos contar com a sua presença em diversos dos eventos que promovemos ao longo dos nossos 44 anos de existência.
Tribunal Simulado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco USP, em São Paulo, para julgamento do massacre Tikuna, 1988. Foto: arquivo CPI-SP.
Oficina “Índios na Cidade de São Paulo”, São Paulo, 2004. Foto: Carlos Penteado.
Oficina sobre Convenção nº 169 da OIT, na TI Tenondé Porã, 2012. Foto: Carlos Penteado.
Vamos sentir falta – já estamos sentindo – de sua sabedoria, de seus conselhos, carinho e bom humor.
Falando em bom humor, me lembro quando, na década de 1990, um madeireiro do interior do Pará impetrou uma ação judicial contra algumas lideranças quilombolas e eu. Imediatamente, procurei Professor Dalmo aflita em busca de orientação. Ele, sempre solicito, me respondeu prontamente, mas não perdeu a oportunidade de exercer seu bom humor. Disse que eu não me preocupasse, que se eu fosse presa, ele levaria bombons para mim na cadeia de Oriximiná.
Nosso carinho e solidariedade com a família do Professor Dalmo. Nossos pensamentos estão com vocês.
Dalmo Dallari, presente!