Fonte: G1

A rotina na aldeia Tenondé Porã, em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, imposta no início da pandemia do coronavírus não mudou um mês depois que os indígenas começaram a ser vacinados, em 20 de janeiro. Mesmo com boa parte da população imunizada, os indígenas seguem respeitando as recomendações de higiene das autoridades de saúde.

Segundo informações da gerente da Unidade Básica de Saúde (UBS) Vera Poty, Lucimar Regina Constantino, somente na região de Parelheiros, cerca de 530 indígenas, de 913, já foram vacinados. Desses, cerca de 230 já tomaram a segunda dose.

Um dos líderes da aldeia Tenondé Porã, Vera Popygua, conhecido como Pedrinho, conta que o povo Guarani costumava circular muito e, por isso, foram necessárias diversas reuniões no início da pandemia para explicar para a população a importância de permanecer em casa. Mas, agora, a comunidade se adaptou ao isolamento social e segue com a prática.

“Nos primeiros meses da pandemia, todo mundo ficou meio desesperado. Hoje eles estão mais tranquilos por conta da vacinação. Com as nossas orientações conseguimos nos organizar e esclarecer todos os cuidados. Como consequência disso, muitos respeitam o isolamento social e se mantêm em casa durante o dia”.

“O não transitar está cada vez mais difícil porque estamos há um ano nessa situação, mas ainda assim, boa parte da aldeia está em casa”, afirma Pedrinho.

Especialistas alertam que mesmo após tomar a primeira dose da vacina contra a Covid-19 é necessário manter os cuidados para evitar a contaminação, já que as vacinas disponíveis não são 100% eficazes.

Além disso, para a vacinação atingir a eficácia máxima, é preciso que a pessoa tome as duas doses e respeite a ‘janela imunológica’, que é o período que o organismo leva para produzir os anticorpos do imunizante.

O G1 esteve na aldeia na semana passada e observou a maioria dos indígenas dentro de casa. A única movimentação na aldeia se concentrava no entorno da UBS, da escola, e do Centro de Cultura e Educação Indígena (CECI) durante o horário de almoço.

“As pessoas estão mantendo o isolamento em casa né, já estamos vacinando na segunda dose na nossa Unidade Básica de Saúde (UBS). Eu mesmo já me vacinei, estou imunizado. O povo está mais em casa porque ainda estamos preocupados em relação à pandemia, com um vírus desconhecido”, afirma Pedrinho.

Jussara Cleide da Silva, de 25 anos, e toda a família já foram vacinados com as duas doses da vacina contra a Covid-19, e mesmo assim ela conta que prefere ficar em casa para se proteger.

“Eu estou tomando os mesmos cuidados, estou mais aliviada e protegida porque aqui em casa todos já estão vacinados, mas ainda assim temos uma preocupação porque não conhecemos o vírus”, afirma Jussara.

Marcílio da Silva, de 50 anos, também já tomou as duas doses e retomou as atividades na horta comunitária da escola da tribo. “Não estou sentindo nada, só tranquilidade. Muita gente da tribo pegou, mas o povo Guarani é forte e conseguiu se recuperar. Com a pandemia a gente tentou permanecer sempre dentro da aldeia. Minha família toda já tomou as duas doses e ninguém teve nenhum sintoma”.

Adesão

Para a gerente de saúde Lucimar, a cobertura da vacinação na região está em 70% porque alguns integrantes da aldeia estão fora do território.

“O que estamos fazendo é vacinando todos os núcleos familiares e convocando todas as pessoas elegíveis. Uma vez ou outra não conseguimos encontrar um membro de determinada família porque essa pessoa está em outra região. Tem muita gente que circula, a mãe mora aqui, mas eles moram em outra aldeia”, explica Constantino.

Segundo Lucimar, também há casos em que os indígenas que falam guarani não compreendem as orientações sobre a vacinação em português.

“O fator da língua é uma outra barreira muito grande, quando a gente percebe que uma pessoa de uma família não compareceu até o posto, um funcionário indígena vai à casa explicar em guarani a importância da vacinação”.

Com exceção de gestantes, todos os indígenas acima de 18 anos das aldeias Tenondé Porã, Krukutu, Kalipity, Marsilac, Brilho do Sol e Guierapaj, da região de Parelheiros estão sendo vacinados.

De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, os 913 indígenas são atendidos pela UBS Vera Poty, com capacidade mensal de 340 consultas médicas e 250 consultas de enfermagem.

Incluindo os quase mil indígenas das seis aldeias da Zona Sul, São Paulo tem três mil indígenas vivendo na cidade.

Dentro dos grupos prioritários no estado já começaram a receber a vacina os profissionais de saúde, indígenas, quilombolas, idosos que vivem em instituições e idosos com mais de 85 anos. O governador João Doria (PSDB) chegou a afirmar que todos os quilombolas e indígenas do estado já foram vacinados.

Uso de máscaras

Apesar do isolamento social, o uso da máscara continua sendo uma barreira para a comunidade indígena.

“Como aqui é uma comunidade indígena, muitos não usam a máscara porque não faz parte da nossa cultura, a maioria acha que máscara atrapalha nos afazeres do dia-a-dia. Por isso o nosso foco na pandemia foi orientar sobre a importância do isolamento”.

Angelina da Silva, de 34 anos, era uma delas. Ela tinha acabado de tomar a segunda dose da vacina quando o G1 a encontrou circulando com máscara. Ela mora com o marido e três filhos.

“Tomei a segunda dose da vacina agora, na minha casa todo mundo tomou, menos meu filho porque ainda não tem idade. Mas não senti nada, nenhum desconforto. Na verdade, estou mais tranquila por ter me vacinado”.