Lilian Gomes – liderança aldeia indígena Piaçaguera (Foto: Carlos Penteado) |
Roda de Conversa – Discutindo a Alimentação Escolar em Piaçaguera, promovida pela aldeia Piaçaguera e a Comissão Pró-Índio de São Paulo, em 23/09, terminou com o compromisso de construção de um novo cardápio para a alimentação escolar servida nas escolas da terra indígena, localizada em Peruíbe, São Paulo.
Os participantes decidiram criar um Grupo de Trabalho para atingir esse objetivo que reunirá educadores e lideranças indígenas, a Comissão Pró-Índio e órgãos de governo, entre eles, a Funai, a Prefeitura de Peruíbe e a Secretaria Estadual de Educação.
Para Lilian Gomes, professora e liderança de Piaçaguera o encaminhamento foi muito importante. “Eu acho que o encaminhamento foi ótimo e tenho certeza que vão sair bons frutos disso. Só esperamos que os órgãos tenham comprometimento. A gente não quer privilégio, a gente quer fazer valer a lei”, explica. A professora relatou que tomou conhecimento sobre o direito a ter a o cardápio diferenciado nas escolas indígenas participando dos eventos promovidos pela Comissão Pró-Índio sobre o tema.
A vice-diretoria da EEI Aldeia Piaçaguera, Fabíola Santos, também gostou do andamento do diálogo. “Gostei muito do andamento da conversa, por ter várias instituições e o encaminhamento foi ótimo”.
O objetivo da roda foi fortalecer o diálogo com os órgãos públicos responsáveis pela alimentação escolar em busca de soluções efetivas para os problemas apresentados pelos indígenas. “Alimento também é cultura. Acho que a demanda apresentada vai além de dizer o que a professora quer que seja incluído no cardápio. Precisamos fazer uma discussão mais aprofundada, não se trata de incluir um ou outro alimento” ponderou Lúcia Andrade, coordenadora da CPI-SP.
Andreza Miyagi Ishikawa, nutricionista do município de Peruíbe, responsável pela alimentação escolar, acredita que o Grupo de Trabalho será efetivo para resolver a questão. “Com o grupo de trabalho vamos ter elementos sólidos para trabalhar, representantes de diversos segmentos vão dar contribuição para a elaboração do cardápio que a comunidade realmente necessita”.
O diálogo é fundamental para resolver a questão, na avaliação de Valmo Xavier da Silva, coordenador de execução financeira da alimentação escolar do FNDE.”Eu considero esta iniciativa muito importante porque esta é a visão do FNDE, de aproximar todos os responsáveis pela alimentação escolar, o programa é uma política público e não tem uma visão somente de transferência de recursos”.
Até pouco tempo, o cardápio das escolas de Piaçaguera continham muitos alimentos industrializados e calóricos (como almondega, linguiça, nugget de frango, achocolatado e bolachas recheadas), após o envio de uma carta ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a Prefeitura aceitou incluir alguns alimentos solicitados pelas lideranças indígenas, contudo a qualidade dos alimentos é questionada. “Eles incluíram alguns alimentos depois da nossa reclamação, mas os alimentos não vem fresco, o milho vem murcho, a mandioca e a batata doce já vêm passada”, reclama Fabíola.
Fabíola serve almoço após a Roda, composto de alimentos tradicionais (Foto: Carlos Penteado) |
Esse tipo de problema relacionada à alimentação escolar em comunidades indígenas é comum, segundo Edina dos Santos Rosa, diretora do Núcleo de Inclusão Educacional, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Para ela o que acontece é, além da falta de conhecimento, é o descumprimento de um grupo de legislação. “A iniciativa da Comissão Pró-Índio com as lideranças indígenas tem grande valor, ficou claro que é um trabalho que vem sendo construído há um tempo e isso fortalece e amadurece todas as necessidades que as comunidades apresentaram. O encaminhamento foi perfeito, precisamos amadurecer a ideia de conhecer o que é alimento dentro da necessidade de cada comunidade, isso fortalece a cultura indígena e mostra a importância dessa alimentação para os diferentes gestores, porque além de ser cultural, esses alimentos são mais saudáveis”, avalia.
“Essa iniciativa deve se expandir para o Estado todo, nós temos várias outras situações mais problemáticas do que aqui, tem aldeia que não tem nem merenda, que os estudantes comem marmitex”opina Cristiano Hutther, coordenador da Regional Litoral Sudeste da Funai.
Participaram do evento, índios vindos de quatro aldeias da TI Piaçaguera, representantes do FNDE, da Prefeitura de Peruíbe, da Secretaria Estadual de Educação, da Funai e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI).
A roda de conversa foi promovida com apoio financeiro da Christian Aid e DKA-Áustria.