Fonte: Alma Preta
Os casos de contaminações pela Covid-19 voltaram a subir no Brasil após um período de aparente tranquilidade da pandemia e do fim das medidas emergenciais contra o novo coronavírus. Diante de um contexto de subnotificação de dados e afrouxamento de medidas de controle em todo o país, comunidades tradicionais e originárias, como as quilombolas e indígenas, ficam ainda mais vulneráveis com o novo aumento.
Até o último domingo (19), segundo dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa, são aproximadamente 670 mil óbitos e quase 32 milhões de casos conhecidos registrados de Covid-19. A média móvel de mortes nos últimos sete dias foi de 133, um aumento de 73% em comparação com o registrado há 14 dias. Já a média móvel de contaminações no mesmo período foi 32.581, um aumento de 10%. No final de maio, o estado de São Paulo chegou a uma alta de 120% de novas internações por Covid-19, segundo a Secretaria da Saúde.
De acordo com o médico, escritor e divulgador científico Adriano Vendimiatti Cardoso, a alta de diagnósticos positivos observados indica que estamos diante de uma quarta onda da Covid-19. O médico explica que, ao contrário do que foi dito pelo Ministro da Saúde Marcelo Queiroga – que chamou também de “anticristo” médicos que falam sobre 4° onda -, não tem como se minimizar a tendência de alta de contaminações apenas como um aumento esperado durante o inverno. (…)
Subnotificação e ameaça a comunidades tradicionais e indígenas
O divulgador científico Adriano Vendimiatti também ressalta que um fenômeno específico dessa 4° onda é que há um aumento de casos não notificados, podendo ser chamada de “onda silenciosa”
“A notificação no Brasil foi extremamente dificultada pelo governo federal. Ela só pode ser feita por profissional de saúde em sites específicos e todo e qualquer exame autoteste não tem uma maneira da pessoa se autonotificar. Aqui no Brasil a pessoa para poder se notificar tem que procurar um serviço de saúde e ninguém faz isso. A burocracia é proposital e então você não tem uma real noção de quantos casos estão tendo por dia”, ressalta.
O médico também acha importante que comunidades tradicionais e originárias voltem a se preocupar com medidas de prevenção contra a Covid-19, como barreiras sanitárias.
“Eles são grupos extremamente vulneráveis por vários motivos, como sociais e até genéticos. Se você tem uma comunidade que tem geneticamente uma tendência por uma doença, eles vão sofrer muito mais. Se você tem grupos que são mais isolados e não tem contato com outras populações, não tem imunidade a outras doenças, eles morrem muito mais. Eles foram extremamente atingidos e não houve nenhuma política real de proteção”, relata.
No último dia 7 de junho, foi publicada uma medida provisória no Diário Oficial da União dispondo sobre o estabelecimento de instalação de barreiras sanitárias protetivas de áreas indígenas para controlar o trânsito de pessoas e de mercadorias direcionadas a essas áreas, com a finalidade de evitar o contágio e a disseminação da Covid-19.
“Essa medida veio um pouco atrasada, porque já há algum tempo que a disseminação do vírus voltou com muita força e a gente já vem orientando as nossas comunidades antes da medida”, destaca Tanawy Xukuru-Kariri, liderança indígena da Mata da Cafurna, em Palmeira dos Índios/AL.
A liderança, que também integra a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), também explica que houve uma baixa de mortes dentro das comunidades, mas reforça que há uma falta de dados reais sobre como anda a contaminação nas comunidades indígenas de abrangência da Apoinme.
“A Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) não testa mais indígena, só a equipe de trabalho dela. Fica complicado sabermos o número exato de testagem na comunidade, mas a gente tem muita gente gripado, com febre, com alguns sintomas dentro da comunidade. Sobre a vacinação, fizemos tudo direitinho. Tivemos algumas resistências por conta de publicações falsas, mas a gente conseguiu contornar essa situação e tivemos 100% da vacinação”, pontua Xukuru-Kariri.
Tanawi também ressalta que há comunidades no Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo que estão regulando a visitação nas comunidades.
“A minha aldeia exclusivamente recebe muita gente de fora e a gente não está recebendo ninguém para que não seja necessário fazer a barreira sanitária. Voltamos com a medida agora há duas semanas devido a essa volta da disseminação do vírus. Estamos com cerca de 68% das aldeias com essas medidas. Tem algumas aldeias que são de muito difícil acesso, aí não tem necessidade de fazer barreira sanitária nem outras medidas, porque já não recebe visitação”, explica.
Segundo levantamento independente da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), até hoje foram contabilizados 71.854 indígenas contaminados e 1.311 mortos, afetando 162 povos. (…)