Por Bianca Pyl
Vindos das regiões Norte, Nordeste e Sudeste, indígenas, pescadores, quilombolas e agricultores familiares se reunirão em Salvador (BA) na próxima segunda-feira (5) para discutir o tema das mudanças climáticas. Durante o seminário Mudanças Climáticas e Desastres – analisando riscos e preparando alternativas locais integrantes de comunidades tradicionais e rurais, ligados a dezenove organizações brasileiras, terão a oportunidade de discutir metodologias para trabalhar o tema das mudanças climáticas e pensar formas de mitigar as consequências já sentidas no cotidiano das comunidades. Os participantes vivem em cinco biomas diferentes, a Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Zona Costeira.
O evento é uma ação do Programa Direito à Terra, Água e Território (DTAT), apoiado pela Agência Holandesa ICCO e ocorrerá até o dia 7 de março. A organização do seminário é da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e da Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP).
Na programação está prevista uma atualização sobre a Rio + 20 e as negociações internacionais sobre o Clima, além da apresentação da metodologia de Avaliação de Riscos Climáticos (CLID). “Especificamente iremos apresentar uma metodologia, que propõem uma abordagem bastante detalhada para informar as comunidades sobre o tema, avaliar os riscos a que poderão ser submetidas e planejar alternativas de enfrentamento”, explica Augusto Santiago, da CESE.
A metodologia CLID foi desenvolvida por duas agências de Cooperação Suíças – Heks e Pão Para Todos, a partir de trabalhos de CARE e outros, já tendo sido aplicada em países de todo o mundo. Ela é dividida em sete módulos: avaliação do modelo de desenvolvimento predominante na região em que a comunidades está inserida, apresentação do tema; busca das percepções que cada comunidade tem acerca dele; os impactos das mudanças climáticas; os riscos inerentes a região e que poderão ou não ser potencializados pelo modelo predominante; planejamento de estratégias de enfrentamento; e estratégias de mudanças.
Após o seminário, a metodologia deverá ser aplicada em várias comunidades para subsidiar avaliações, que serão sistematizadas e apresentadas em um segundo seminário. “A idéia é trabalhar para que possamos desenvolvê-la de forma que o método não seja mais importante que o aprendizado e percepções que cada pessoa e comunidade tem do problema. Nosso foco está no processo e no aprendizado do grupo. Estamos adaptando essa metodologia a nossa realidade socioambiental”, finaliza Augusto.
Povo Guarani e mudanças climáticas
Durante o seminário, o professor Guarani Osmar Veríssimo irá apresentar a Cartilha Mudanças Climáticas e o Povo Guarani, elaborada por professores da aldeia Tenondé Porã, em Parelheiros, São Paulo. A cartilha, lançada em dezembro do ano passado, é resultado das capacitações anteriores realizadas nas oficinas sobre Mudanças Climáticas do Programa DTAT.
Para o professor estadual Osmar Veríssimo, que participou da elaboração da Cartilha, é importante que a comunidade reflita sobre as mudanças que estão ocorrendo na natureza. “Hoje existem mudanças é importante pra comunidade entender o porquê disso”, conta. O professor explica que o cotidiano Guarani é baseado na natureza e as mudanças são sentidas no dia-a-dia. “Agora temos o material para explicar para as crianças sobre o tema, com linguagem bem simples”, disse Osmar durante o lançamento.
A publicação foi escrita em Português e Guarani para aproximar o tema das comunidades indígenas. Este é o primeiro material feito pelos professores indígenas da Aldeia Tenonde Porã. A cartilha foi realizada pela Comissão Pró-Índio de São Paulo com apoio de DKA-Áustria, CAFOD, além do Programa DTAT/ICCO. A Cartilha pode ser acessada em: http://www.cpisp.org.br/pdf/Cartilha_MudancasClimaticas.pdf