Fonte: Todo dia

Áreas de vulnerabilidade de Sumaré fazem parte de uma força-tarefa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para a testagem em massa de Covid-19.

O trabalho permite o controle efetivo da doença nas comunidades, identificando casos, ordenando o isolamento social, difundindo técnicas preventivas.

O projeto é amplo, se expande por todo o Estado de São Paulo, e chega até a regiões de baixos índices de desenvolvimento humano, como as periferias do Vale do Ribeira, comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas do Litoral.

Em Sumaré, ao longo de três meses, os técnicos da Unicamp testaram e orientam moradores da região da Vila Soma, conhecida área de ocupação que existe há quase uma década, e que hoje é habitada por 2,5 mil famílias (…)

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Mas, muito além de essencial para a saúde pública, o programa vai além. É nos núcleos historicamente apartados de atenção pública e carentes de políticas sociais que a equipe busca engajar os moradores e preservar aspectos culturais.

As comunidades se tornam espaço de atuação da própria universidade, envolvendo pesquisadores e especialistas.

O projeto nasceu da articulação entre a Unicamp, governos, institutos e associações responsáveis que conhecem cada núcleo e podem dar suporte à assistência aos carentes.

O trabalho começou em agosto em aldeias indígenas na região de Mongaguá. Com rodas de conversa, se buscou sensibilizar a população sobre as formas de controle da pandemia, como o distanciamento social, a lavagem das mãos, o uso de máscaras. Mas os técnicos seguiram acompanhando a comunidade, identificando carências, resgatando costumes e valores.

De acordo com Paulo Abati, médico infectologista da FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp, especializado em saúde indígena, a pandemia trouxe prejuízos sérios aos guaranis.

“Os índios, por terem pouca área para o roçado, a caça e a coleta de alimentos, precisam com frequência visitar a cidade”, disse. “O isolamento total era impossível.”.

Outro impacto sério, diz, é o chamado “etnocídio”. Um elemento cultural nas aldeias é a transmissão oral de conhecimento a partir dos mais idosos para os mais novos, sem registro em livros.

“Como a pandemia faz mais vítima entre os mais idosos, a aldeia corre o risco de perder suas referências, sua própria cultura”, ressume.

O trabalho começa a se expandir das aldeias para as comunidades carentes do Vale do Ribeira. Mas o trabalho nas áreas vulneráveis nem sempre é fácil. A testagem pelo método do swab (cotonete especial), por exemplo, provoca desconforto e foi rejeitado por muitos indígenas.

“Nós atuamos sem uma visão etnocentrista. Com muito diálogo e humildade cultural”, diz Abati.

De acordo com médica sanitarista Silvia Santiago, também integrante da força-tarefa, o apoio às áreas vulneráveis acabou mostrando uma soma de diferentes esforços e saberes, em diversas áreas de conhecimento – da medicina à sociologia – que ressalta a importância da universidade pública. “Não é o teste pelo teste”, disse, explicando que a ação revela o campo de trabalho imenso dos pesquisadores para a transformação social.