Fonte: Estadão

A única saída para acabar com a pandemia é a vacinação. Até agora, pouco mais de 5% da população brasileira teve a oportunidade de receber o imunizante contra o coronavírus. São 11 milhões de pessoas que respiram mais aliviadas. O Estadão reuniu histórias de algumas dessas pessoas, brasileiros com realidades distintas, que vivem em diferentes regiões, mas que, em comum, conseguiram pegar o início da fila para se livrar do maior problema de saúde dos últimos cem anos.

São profissionais de saúde, como a atleta paralímpica Fabiana Soares, que trabalha em UTI como fisioterapeuta, mas treina por uma vaga para os Jogos de Tóquio. Idosos, como Ivan Kosimenko, de 90 anos, sobrevivente da Segunda Guerra Mundial e que temia não superar a covid-19. Além de indígenas e quilombolas, como Cristovão Delmiro Coelho, da aldeia Kokama, do interior do Amazonas. Imunizado, ele também ajudou que as doses chegassem a 48 outras comunidades da região que fica a 1.200 quilômetros de Manaus. (…)

Líder indígena e a confiança de que tudo poderá ser melhor

Mirian Dina dos Santos Oliveira, de 41 anos, é mais conhecida como Itamirim. Ela é a fundadora da aldeia Tabaçu Rekó Ypy, que fica na divisa das praias de Itanhaém e Peruíbe, no litoral sul de São Paulo. As 45 pessoas que vivem em sua comunidade já receberam o imunizante contra o coronavírus.

“A vacina, como todas as outras, sempre dá uma sensação de medo, mas também uma certa confiança, de que tudo poderá ser melhor, de que o corpo possa estimular a auto proteção, de conhecer (o vírus) para saber como lidar. Como na nossa liderança, assim sinto ao receber a vacina.”

Ela nasceu na capital paulista e só com 7 anos retornou com sua mãe para uma comunidade indígena. O retorno despertou o interesse em saber mais sobre suas origens. Formou-se em Pedagogia na Universidade de São Paulo (USP) para depois dar aula de tupi-guarani na aldeia. O cacique, na época, não permitiu que uma pessoa de fora passasse os ensinamentos. Então fundou sua própria aldeia, onde a língua oficial é o tupi-guarani.

São nove famílias que vivem na aldeia. As casas são de madeira e foram construídas em círculo. As residências possuem luz elétrica, fogão, geladeira e TV. As refeições são coletivas, assim como os afazeres diários. “Da minha comunidade apenas uma pessoa se contaminou.”

“A vacina sempre dá uma sensação de medo, mas também uma certa confiança de que tudo poderá ser melhor, de que o corpo possa estimular a autoproteção” – Mirian Itamirim

Itamirim é a educadora morubixaba (líder maior) e coordena as práticas de fortalecimento da identidade indígena. “Ter de estar em quarentena dá muito mais trabalho para nós líderes, principalmente para assistir as famílias que trabalhavam em feiras e eventos abertos, expondo seus produtos para venda. Elas não podem sair, não tem o que dar para os filhos, pois a recuperação das práticas de subsistência tradicional está em ritmo lento.”