A iniciativa da Cooperativa do Quilombo e da Comissão Pró-Índio visa contribuir com a maior independência das mulheres fomentando uma opção de renda e com a melhora da qualidade da alimentação oferecida nas escolas quilombolas. A meta é iniciar a comercialização dos produtos via PNAE em 2016
Oriximiná – Pará Foto: Carlos Penteado |
Reunidos nos dias 24 e 25 de novembro, diretores e associadas da Cooperativa Mista Extrativista dos Quilombolas do Município de Oriximiná (CEQMO), representantes da Emater-Pará e da Comissão Pró-Índio de São Paulo acordaram o plano de trabalho para 2016 que será desenvolvido com o apoio financeiro de Christian Aid.
A meta é organizar 35 mulheres quilombolas de sete comunidades de Oriximiná para uma experiência piloto de comercialização de produtos agrícolas (derivados da mandioca, hortaliças e frutas) para a Prefeitura de Oriximiná por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) a partir do 2º semestre de 2016.
“Trata-se de uma iniciativa pioneira e por isso decidimos iniciar com um grupo pequeno de produtoras. Será um processo de aprendizado para todos os envolvidos. São muitos os desafios desde organizar a produção e a comercialização até motivar a Prefeitura de Oriximiná a se engajar e adquirir os produtos das mulheres quilombolas”, explica Lúcia Andrade, coordenadora da Comissão Pró-Índio de São Paulo.
Nilza Nira Melo de Souza, liderança quilombola que coordena o projeto está otimista “porque a gente tem a terra, tem a prática, então a gente só quer ajuda da Emater para ampliar um pouco o que a gente já tem”. A parceria com Emater de Oriximiná garantirá a assistência técnica necessária “vamos trabalhar com palestras e cursos voltados à produção agrícola e também incentivar a produção. Vamos buscar melhorar o trabalho que vem sendo feito com a mandioca, hortaliças e outras culturas”, explica Derlan Damas Ceno Lira, técnico da Emater/PA.
Atualmente a alimentação oferecida nas escolas quilombolas é “tudo enlatado e empacotado” explica Francisco Hugo Souza presidente da CEQMO. “Vem tudo de fora, da cidade, o arroz vem da cidade, a bolacha vem da cidade, o enlatado vem da cidade, enfim tudo vem da cidade, não tem nada que é de lá da comunidade”, complementa.
Os alimentos oferecidos são muito diferentes do que os estudantes costumam consumir em casa, segundo Fernanda Magno da Silva do Quilombo Jauari que também participa do projeto “A criança está acostumada com chá de capim santo de manhã e beiju”, detalha. Para ela o projeto é importante “para as crianças conhecerem e comerem do fruto que a gente planta”. E Nilza completa “a gente acredita que com uma boa merenda vai ajudar até mesmo na educação porque uma criança com a barriga cheia tem mais facilidade de aprender as coisas”.
Escola no Quilombo Jauari, Oriximiná – Foto: Carlos Penteado |
Outro impacto do projeto é apontado por Jocineia Portilho Pinheiro, do Quilombo Cuminã, a promoção da autonomia das mulheres: “eu acho que vai ser bom porque cada uma delas vai poder ser um pouco mais independente porque tem muitas delas que dependem mesmo só do homem para tudo, então eu acho que ela vai se sentir mais segura”. E Nilza destaca o aspecto da articulação “é uma luta que a gente está abraçando em conjunto. Acho que vai melhorar na questão do entrosamento, na união, na força das mulheres”. Visão que é reforçada por Maria Cilei de Souza Almeida do quilombo Monte dos Oliveiras outra participante, “o projeto é importante para a gente ter mais união, a gente ter mais contato entre as mulheres das comunidades, se unir em peso para seguir em frente na nossa luta”.