Na primeira quinzena de setembro, roteiro pelos territórios quilombolas reuniu mais de 300 pessoas de 15 comunidades diferentes
Com o objetivo de se debater a importância do voto e as prioridades do movimento, lideranças quilombolas marcaram a primeira quinzena de setembro com a mobilização de mais de 300 pessoas de 15 comunidades diferentes do Município de Óbidos, no Estado do Pará.
A iniciativa encabeçada pela Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Óbidos (ARQMOB) foi realizada em conjunto com a Regional do Baixo Amazonas da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará, a Malungu, e contou com apoio da Comissão Pró-Índio de São Paulo.
Por quatro dias, lideranças conseguiram reunir centenas de quilombolas com o objetivo de “se discutir o voto consciente, da importância de votar naquelas pessoas que vão fazer algo pela nossa coletividade, de escolher bem em quem vamos depositar a nossa confiança”, afirmou Redinaldo Alves, liderança do quilombo Arapucu e Coordenador de Articulação da ARQMOB.
A escalada de violência política no país também se mostrou uma preocupação e algo para se ter em conta durante as visitas. “Debater o voto consciente nas comunidades traz pra gente uma oportunidade de se ter uma discussão sadia sobre a questão política, sobre a questão político-partidária, de ter a liberdade de escolha e sem [sofrer] retaliações”, reflete Douglas Sena, quilombola da Comunidade Arapucu e assessor da Malungu.
Principal preocupação: regularização das Terras Quilombolas
A pauta que orientou o debate sobre o voto consciente nas comunidades foi a da titulação das Terras Quilombolas. “A principal demanda do nosso movimento quilombola é que o governo faça por onde para regularizar nossos territórios. Nós sabemos que o Incra foi sucateado nos últimos quatro anos. Queremos que o Incra tenha orçamento para fazer as titulações, queremos ver os processos [de regularização] andando”, afirma Redinaldo.
“Sendo quilombola, precisamos olhar para isso com os pés no chão. O voto não tem preço e tem consequências”, completa Douglas.
Em Óbidos, há 18 comunidades em seis territórios coletivos. A primeira área regularizada no Município foi a Terra Quilombola Cabeceiras, titulada em 2000 pelo governo federal. A segunda regularização ocorreu somente em 2018 quando o Incra outorgou à Comunidade Peruana o título de suas terras. Quilombolas dos outros quatro territórios lutam pela a conclusão dos processos de regularização há quase vinte anos.