A Comissão Pró-Índio de São Paulo lança hoje o livro “Coronavírus é um bichinho que deixa doente”, onde as crianças da Terra Indígena Piaçaguera relatam a sua experiência de vivenciar a pandemia.
Afinal, o que as crianças indígenas têm a nos dizer sobre a pandemia da Covid-19? Com o avanço e prolongamento da pandemia no Brasil, a Comissão Pró-índio de São Paulo junto com professores e lideranças indígenas procurou ouvir as crianças da Terra Indígena Piaçaguera sobre o momento que vivemos, um desafio para pessoas de todas as idades.
O livro “Coronavírus é um bichinho que deixa doente” reúne depoimentos de 38 crianças e adolescentes, com idades entre 4 e 15 anos, da Terra Indígena Piaçaguera, localizada no município de Peruíbe, litoral sul do Estado de São Paulo. Por conta do isolamento social, como medida de prevenção ao contágio pelo novo coronavírus, os depoimentos das crianças foram todos coletados virtualmente (via áudio de celular e em conversas por videochamada), com a colaboração de professoras(es) e lideranças, ao longo de dois meses.
“Nós professores, que ficamos com eles uma boa parte do tempo, que conhecemos cada um deles, até a gente ficou surpreso com as respostas. Foi muito gratificante esse trabalho”, revela Lilian Gomes, da Aldeia Piaçaguera, uma das colaboradoras do livro.
Em breves relatos, as crianças compartilham suas percepções, seus temores e seus desejos para quando a pandemia acabar. Contam o que aprenderam sobre uma doença “que se espalha pelo mundo inteiro, fazendo as pessoas ficar com coronavírus e ficar doente”. Relatam também como estão se prevenindo. Às vezes a resposta está na ponta da língua: “A gente se cuida, usa o álcool em gel. Quando chega, a gente tem que tomar banho, não pode sair sem máscara e também evita aglomerações”. Em outras situações, a resposta sai, por assim dizer, meio “atrapalhada”: “Como você está se prevenindo, David? ‘Lavando o pé… Não, a mão. Lavando a mão’ ”.
Ainda há pouca visibilidade e espaços de escuta sobre o impacto da pandemia nas crianças. A publicação é uma porta que se abre na tentativa de acolher e fortalecer esse diálogo: “o livro é importante para as pessoas saberem o que as crianças entendem sobre a pandemia, o que elas estão pensando… O que as deixa preocupadas? A saudade da família, a saudade dos amigos, a saudade da escola. Ficamos tão preocupados em protegê-las… que a gente acaba conversando entre a gente e deixa elas um pouquinho de lado”, comenta a professora Lilian Gomes.
Para a professora Lenira Djatsy, da Aldeia Nhamandu Mirim, o livro é também um importante registro histórico: “a gente fica como uma revisão do que vivemos, de um momento tão crítico e único… porque isso é história. E também tem a importância de as crianças reverem seus próprios depoimentos, e o povo (não indígena) ver como o povo indígena passou por esse momento de pandemia”.
“Coronavírus é um bichinho que deixa doente”
Organizadoras: Patrícia Costa Vaz e Lúcia M. M. de Andrade
Comissão Pró-Índio de São Paulo
36 páginas I 24 x 24 cm
Português
Ed. 2021
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