Quilombolas de Oriximiná (PA) manifestaram-se em Santarém exigindo a publicação pelo Incra  do relatório de identificação da terra Alto Trombetas, que está pronto e aprovado desde 2013 e não é publicado

 

 
Foto: Carlos Penteado

 

Após março passar em branco, sem publicações, no mês passado foram publicados no Diário Oficial da União quatro decretos de desapropriação em benefício comunidades quilombolas, cinco Portarias de Reconhecimento da Presidência do Incra e um Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID). Além disso, uma comunidade foi beneficiada com a Concessão de Direito Real de Uso, entregue pelo Incra.

 

Na 11º da mesa permanente de acompanhamento da política de regularização quilombola, a presidenta Maria Lúcia de Oliveira Falcón assinou portaria que permite o acesso dos quilombos às políticas de inclusão social e desenvolvimento produtivo do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA). A inclusão no programa era demanda antiga das comunidades quilombolas.

Em 2016, ainda não foram tituladas terras quilombolas.

Apenas 3 RTIDs publicados em 2016

O RTID de Fazenda Porteira, terra localizada no município de Entre Rios na Bahia, identificou uma área de 1.938,1820 hectares em benefício de 148 famílias. O relatório foi publicado no dia 27 de abril, e é o trigésimo publicado referente a terras da Bahia, onde atualmente estão abertos 269 processos de titulação.

No início de maio, dia 03, foi publicado o RTID de Costa da Lagoa (RS). Com este, chegou-se a três relatórios publicados em 2016.

Ao todo encontram-se abertos no Incra, 1.519 processos de titulação de terras quilombolas, sendo que apenas 13% destes foram identificados e tiveram seu relatório publicado no Diário Oficial. Essa situação deixa muitas comunidades vulneráveis, ainda mais aquelas que estão em situação de conflito, e disputam o controle sobre sua terra com fazendeiros e grandes empreendimentos.

Um exemplo são as comunidades quilombolas do Alto Trombetas, localizadas em Oriximiná, município do estado do Pará. Enquanto aguardam a publicação de seu RTID, pronto e tecnicamente aprovado desde 2013, a mineração avança sobre suas terras.

Isso ocorre porque, em função da sobreposição da terra com Unidades de Conservação, o ICMBio não permite a publicação do relatório – contrariando as normas que regem processo de titulação e que determina que, somente após a publicação do relatório, o órgão ambiental poderia demonstrar interesse e contestar a área identificada para titular. Enquanto a questão não se resolve, o Ministério do Meio Ambiente autorizou a extração de bauxita pela Mineração Rio do Norte (MRN) na mesma área que impede que seja titulada em benefício dos quilombolas.

No dia 27 de abril, motivados por essa contradição, 160 quilombolas de Oriximiná saíram as ruas de Santarém, para se manifestar e exigir que o Incra publique o relatório de Alto Trombetas e seu processo de titulação tenha continuidade.

Acesse a carta entregue pelos quilombolas ao Incra e ICMBio 

Veja mais informações sobre a manifestação

Comunidade quilombola Sítio Arruda (CE) recebe Concessão Real de Uso
Em abril, foram entregues contratos de Concessão de Direito Real de Uso à comunidade quilombola Sítio Arruda, localizada no município de Araripe no Ceará, referente a dois imóveis desapropriados e destinados para o Incra em dezembro. Os contratos permitem a comunidade usufruir das duas áreas que fazem parte de seu território enquanto estas não são tituladas e tornam-se propriedade dos quilombolas definitivamente. 
 
Os decretos de desapropriação
Os 4 decretos de desapropriação assinados pela presidenta beneficiam quilombolas das terras Caraíbas (SE), Gurupá (PA), Macambira (RN) e Monge Belo (MA). Veja mais informações em notícia do CPI-SP: Terras Quilombolas – Publicados decretos de desapropriação assinados por Dilma Rousseff
 
Chegam a 9 as Portarias publicadas este ano
As cinco portarias publicadas em abril são referentes as terras de Galvão (SP), Alpes (RS), Pirangi (SE), Alto da Serra do Mar (RJ) e São Benedito (RJ), e foram publicadas no Diário Oficial no dia 20 de abril. Com as cinco portarias deste mês, chegaram a 9 publicadas em 2016, e um total de 108 área declaradas como quilombolas. 
 
A comunidade Galvão está localizada nos municípios de Eldorado e Iporanga, na região do Vale do Ribeira, onde encontram-se grande parte das comunidades quilombolas do estado de São Paulo. Foi reconhecida uma área de 4.046,7412 hectares e beneficiadas 29 famílias. 
 
Composta por 54 famílias, Alpes está situada na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Foram reconhecidos pela Portaria, 58,2834 hectares. 
 
Pirangi, localizada em Capela – SE, teve reconhecida uma área de 199,5678 hectares. As 43 famílias que formam a comunidade já contam com parte de sua terra titulada – em 2013, o Incra titulou uma área de 71,3694 hectares. 
 
As duas terras quilombolas do Rio de Janeiro reconhecidas em abril, Alto da Serra do Mar, localizada no município de Rio Claro e onde vivem 20 famílias, e São Benedito, localizada no município de São Fidélis e onde vivem 60 famílias, tiveram seus RTIDs publicados em 2010. Foram cinco anos para que os 327,1900 hectares de Alto da Serra do Mar e os 2.953,7400 hectares de São Benedito identificados pelo relatório fossem reconhecidos. 
 

 
Coordenação do Monitoramento: Lucia M. M. de Andrade
Equipe de pesquisa: Otavio Penteado, Carolina Bellinger e as estagiárias Mariana Furtado e Thaís Fernandes.
 
Os dados apresentados no presente texto foram levantados, sistematizados e analisados no âmbito do Monitoramento Comunidades Quilombolas e Direitos Territoriais, desenvolvido pela CPI-SP e implementado com o apoio financeiro de Christian Aid.